Algumas conclusões podem ser tiradas do recente estudo da PwC sobre empresas familiares, uma vez que elas refletem preocupação recorrente dos empresários. O estudo, intitulado “Grandes expectativas – a futura geração de líderes”, aponta que 54% das empresas familiares brasileiras não têm um plano de sucessão em vigor. Por outro lado, 92% dos brasileiros das futuras gerações de líderes dizem querer deixar a sua marca e fazer algo especial na empresa.
Ao cruzarmos os resultados, observamos uma larga distância entre as expectativas da geração atual e da geração que está assumindo a gestão. Surge uma dúvida sobre como os jovens podem deixar a sua marca, se a atual geração não estabelece claramente um plano de sucessão que dite os limites e responsabilidades dos herdeiros. O que se nota, em decorrência disso, é que a falta de planejamento tem prejudicado a maioria das empresas, pois essa transição entre gerações é justamente a zona de ruptura nos modelos de negócio e, muitas vezes, até do núcleo familiar.
A sucessão no âmbito das empresas familiares é, de fato, um tema que exige bastante atenção, pois não envolve somente a corporação enquanto propriedade, mas também a gestão e a família. Somado a isso, as empresas que estão passando por esse processo também devem lidar com os reflexos causados pela crise econômica e pela situação política atual, que impactam sobretudo nas decisões que precisam ser tomadas a médio e longo prazo.
Para superar essa questão sem causar uma disrupção no tripé propriedade/gestão/família, é necessário compreender que cada núcleo familiar é único e tem seu próprio roteiro. Portanto, não é possível vislumbrar uma solução padronizada para todas as empresas deste tipo. Sabendo disso, é necessário promover uma autoavaliação da empresa familiar, registrando todos os detalhes relacionados ao estágio do ciclo de vida em que o negócio se encontra, além do modelo de governança utilizado e a estrutura acionária da propriedade nesse momento.
Somente a partir dessa avaliação é possível criar ou aprimorar o planejamento estratégico, respeitando a chamada “agenda do dono”. É com essa agenda bem definida que a família empresária conseguirá deixar clara a sua cultura, contendo a visão e os valores da empresa, bem como o modelo de negócios e o DNA familiar, que servirá para que tudo possa prosperar. A essa agenda, incluem-se, ainda, a governança corporativa e as regras e papéis fundamentais para delimitar os espaços e atribuições de cada um. Tudo compartilhado com os conselheiros, demais familiares e executivos.
Igualmente necessário neste contexto é o entendimento do papel da nova geração. A pesquisa da PwC mostrou que a busca por credibilidade por parte dos jovens empresários e executivos se dá por meio de qualificação. Eles são muito bem preparados e com um forte viés no digital, pois esta é a forma que encontraram de aperfeiçoarem suas próprias competências e adquirirem confiança diante das antigas gerações.
Portanto, somando-se a “agenda do dono” com a definição do papel da nova geração, é possível iniciar um bom processo de sucessão. Quando bem administrada, qualquer empresa consegue potencializar o que existe de melhor entre as gerações, permitindo que a empresa reinvente-se constantemente. O planejamento estratégico visa não somente aos bons resultados da empresa, mas também beneficia a gestão e o desempenho dos proprietários, uma vez que o sucesso de um, especialmente nesse formato de negócio, não pode ser alcançado sem o sucesso do outro.
* Sócio da PwC Brasil, especialista em auditoria e asseguração