Comunicação Digital, Comunicação

Quando o novo coronavírus começou a chamar a atenção do mundo, muitos de nós imaginávamos que este seria um fenômeno com alguns meses de duração. Passados mais de sete meses de pandemia decretada pela Organização Mundial de Saúde, não se sabe ao certo até quando ele afetará nossas vidas. Ainda estamos colhendo informações sobre a covid-19 e sobre a extensão de seus danos.

Em meio a toda incerteza, no entanto, muitos de nós começaram a rever as prioridades. Seguramente o que consumimos como informação entrou – nem que inconscientemente – nessa lista. Não há mais tempo para “desperdiçar” com certos assuntos, afinal a preocupação com saúde, segurança, emprego, educação, economia e sustentabilidade — temas das chamadas hard news — se tornaram ainda mais importantes. As fake news não são mais toleradas e os meios de propagação delas estão sendo questionados. Ficamos mais sensíveis, mais seletivos, mais atentos.

Observamos uma atenção maior às fontes confiáveis de informação. A mais recente pesquisa do Reuters Institute sobre hábitos de consumo de notícias revelou um crescimento, ainda durante a pandemia, no consumo de notícias por meio da televisão, dos portais online e das mídias sociais. A pesquisa foi realizada em seis países (Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Argentina, Coreia do Sul e Espanha) entre janeiro e abril. Para exemplificar, no Reino Unido a pesquisa verificou uma mudança de 20 pontos percentuais na preferência das fontes de notícias do online para TV. Na Argentina, foram 19 pontos. Na média, os seis países pesquisados apresentaram uma mudança de 12 pontos.

Quando questionadas sobre o conteúdo gerado pela mídia tradicional nesses países, 60% das pessoas disseram que essas fontes de informação os ajudaram a entender a crise e 65% afirmaram que a imprensa as ajudou a compreender as medidas necessárias a serem tomadas durante a crise, contra apenas 32% dizendo que a mídia exagerou no impacto sobre a pandemia.

Ao mesmo tempo em que a população se voltava para um tema vital, cresciam as informações falsas circulantes na rede sobre o assunto. Um levantamento realizado pela ONG ativista Avaaz com mais de 6 mil internautas no Brasil, na Itália e nos Estados Unidos em abril deste ano mostrou que 6 em cada 10 deles receberam fake news sobre a covid-19 pelo WhatsApp. O Facebook é a segunda plataforma apontada como a maior propagadora de notícias falsas: 5 em cada 10 usuários viram fake news pela rede social. O dado mais preocupante do estudo quanto ao Brasil é o fato de que sete em cada dez brasileiros acreditaram em ao menos uma notícia falsa a respeito da pandemia do novo coronavírus. Talvez seja por isso que, entre as três nacionalidades participantes, os brasileiros anseiem mais pela verificação de notícias: 80% disseram que gostariam de receber correções quando forem expostos a notícias falsas.

Assim como não temos certeza sobre até quando a covid-19 vai afetar nossas vidas, não sabemos até quando a atenção maior às hard news ou a explosão de fake news vai durar. Mas certamente, a pandemia ajudou a população a abrir os olhos para a gravidade do consumo e propagação de informações falsas e sobre a importância das fontes qualificadas. A lição está dada.


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